Entendendo a seletividade alimentar: como podemos ajudar?

Entendendo a seletividade alimentar: como podemos ajudar?

Vamos começar entendendo que é esperado para uma criança da educação infantil, fase essa que vai até em torno dos 6 anos de idade, uma diminuição do apetite, natural, fisiológica, e é esperado que a criança passe a comer menos. 

Mas por que isso acontece?  

A redução do apetite nessa fase é normal e esperada porque ocorre uma redução na velocidade de ganho de peso e estatura, com isso acontece a diminuição da fome, e isso é maravilhoso, porque diminui a necessidade nutricional da criança, ela precisa de menos para crescer, pois estão crescendo em um ritmo menor, então passam a diminuir a quantidade ingerida. 

Nesse momento ocorre geralmente um grande “desespero” por parte dos pais, pois meu filho com nove meses comia mais que agora com três anos. É necessário manter a calma, procurar a ajuda de um profissional especializado, mas pode ser absolutamente normal, ser uma questão fisiológica e que não necessita de nenhum tipo de intervenção, comportamento normal da fase.

E como é o comportamento alimentar dessa criança nessa fase? É um comportamento instável, ele varia ao longo dos dias, é imprevisível. Pode ser que hoje ela tenha comido todos os grupos alimentares do prato (carboidrato, proteína, vitaminas e minerais) e no dia seguinte ela escolha apenas por um. Sabendo disso podemos ficar mais tranquilos, pois entendemos que isso é o esperado mesmo, esse comportamento imprevisível, cada dia uma surpresa e nós vamos nos reinventando para saber o que vão preferir comer hoje.  

É necessário criatividade e muita paciência, de nada vai adiantar nessa fase as chantagens para a criança comer, isso pode futuramente levar a um transtorno alimentar, a criança vai estar comendo para agradar o adulto e ganhar a chantagem.  Vamos envolver a criança, pergunte para ela, entre as opções saudáveis que VOCÊ estará dando, qual é de sua preferência para o preparo do cardápio de hoje, explique os benefícios do alimento, mostre as vantagens de estar comendo, e muito importante, nessa fase o mesmo alimento deverá ser apresentado no mínimo de 8 a 10 vezes, de formas diferentes (assado, cozido, cru, picado, ralado, etc) e apenas depois disso pode  concluir- se que a criança realmente não gosta do alimento. 

Mas agora saindo do comportamento natural, fisiológico para essa fase, temos os casos das crianças com seletividade alimentar, que precisam ser observadas e que necessitam de intervenção orientada por um profissional, preferencialmente a nutricionista, ela vai ajudar da melhor maneira possível. 

A criança seletiva é uma criança saudável, ativa, isso é muito importante que fique bem claro, ela não é uma criança doente, que se esconde para não comer, muito pelo contrário, ela senta na mesa para fazer suas refeições tranquilamente com a família, não tem dificuldade de participar desse momento. O que acontece com seu comportamento alimentar é a redução na quantidade e variedade de alimentos. Diferente da seletividade natural da fase, aqui a criança opta por um mesmo alimento por vários dias, ela cria um padrão alimentar, por exemplo: por vários dias vai só comer arroz, ela não tem dificuldade em aceitar novos alimentos, porém é preciso ser apresentado o mesmo alimento para o seletivo, de 20 a 25 vezes, de formas diferentes, para não se tornar desgastante para criança, para só assim afirmar que não gosta. 

Então vamos recapitular, natural, de caráter fisiológico, é aquela criança com comportamento alimentar imprevisível, hoje ele adora o feijão e no dia seguinte, que caprichamos no feijão ele recusa e só quer comer a batata, por exemplo. Já o seletivo alimentar cria um padrão de aceitação e recusa, por vários dias só aceita o mesmo alimento, porém, é saudável. 

Entretanto, temos as crianças que apresentam dificuldade alimentar, essa criança já pode apresentar redução de peso, a sua curva de ganho de peso começa cair, a curva de crescimento fica estagnada, já existe um comprometimento nutricional. Essa criança tem neofobia, ela sente medo do alimento, ela sente medo de provar o novo. Essa criança não realiza suas refeições com a família, não gosta de sentar na mesa para comer, se sente desconfortável, ela se esconde para não comer, a refeição para ela é algo muito difícil. A exposição do mesmo alimento para essa criança precisa ser maior que 25 vezes, de forma descontraída e diferente, é um processo mais complexo, que exige um acompanhamento profissional, pois pode estar com a saúde comprometida. Essa criança de fato não se alimenta, sente medo, chora, e nega os alimentos. 

Vamos ficar atentos ao comportamento de nossas crianças, caso seja necessário procure atendimento para intervir da melhor maneira possível. 

Para auxiliar, seguem estratégias para driblar a seletividade alimentar: 

Estratégia 1 - Leve para fazer compras: o envolvimento da criança deve iniciar no adquirir o alimento.

Estratégia 2 – ajudar no pré-preparo do alimento: sempre com ajuda de um adulto, a criança pode ajudar a lavar, organizar, cortar, amassar, temperar o alimento.

Estratégia 3 - o chef: convide seu filho para ser protagonista da refeição. Um dia no lanche, outro no almoço ou no  jantar. 

Estratégia 4 – escolher alimentos de um mesmo grupo (carboidrato, proteína, vitaminas e minerais): consiste em apresentar duas opções de um mesmo grupo alimentar e pedir para que seu filho faça a escolha. Não pergunte “o que você gostaria de comer hoje?” esta é uma pergunta muito ampla, seu filho pode ficar confuso ou ainda escolher algo que você não gostaria de ofertar (sorvete, por exemplo). 

Estratégia 5 –  disfarçar o alimento embora não seja o ideal, pode auxiliar o enriquecimento nutricional de várias receitas. Exemplo: adicionar espinafre batido no feijão, beterraba na panqueca ou mudar a forma de apresentação do brócolis, entre outros. Aos poucos o ideal é ir   deixando alguns pedaços mais evidentes e gradativamente ir aumentando até chegar no ideal. 

Embora não seja uma tarefa fácil, podemos assegurar que é possível. Paciência, ofertas variadas e constância, são as chaves do sucesso alimentar. Nós do Colégio Sigma estamos diariamente incentivando e encorajando nossas crianças a desenvolverem um comportamento alimentar saudável. Contem conosco!