O Ambiente Escolar e o Desenvolvimento das Habilidades Sociais
A Família e a Escola são as primeiras “microssociedades” que a criança e o adolescente vivenciam, por isso, ambas são responsáveis por fornecer ambientes que propiciem também o desenvolvimento das habilidades psíquicas e sociais, tão necessárias e escassas na nossa grande sociedade. Saber conviver, ajudar, respeitar, negociar, ceder, esperar, frustrar-se e logo reestruturar-se são comportamentos sociais que estão relacionados com a maturação do córtex pré-frontal ─ área do cérebro responsável pela flexibilidade cognitiva, capacidade de planejamento e controle inibitório ─ e como todas as outras áreas do cérebro, também precisa ser estimulada pelo ambiente para que se desenvolva em potencial. É fundamental compreendermos que embora estas competências sejam individuais, elas só podem ser estimuladas no coletivo, e quanto mais cedo melhor. No primeiro ano de vida o bebê precisa de atenção exclusiva, pois percebe o outro ainda como extensão de si próprio; com a aquisição de uma maior independência ao engatinhar e andar, começa a interagir mais socialmente e a explorar sua casa de outros ângulos. Logo esse ambiente torna-se monótono, e o cérebro em pleno desenvolvimento exige que a rede ambiental e social também se expanda. E aí entra a Escola.
Para atender as necessidades desta criança, guiadas pelo desejo de aprender e explorar o mundo, a escola precisa compreender a educação para além dos conteúdos, tendo como base o desenvolvimento humano em sua complexidade. Talvez a maior contribuição de Maria Montessori tenha sido apresentar um modelo de Educação preocupado em organizar e oferecer ao aluno um ambiente capaz de estimular para além do cognitivo. Seu enfoque sempre esteve no desenvolvimento e não apenas no conhecimento. Com este objetivo, apresentou como um dos princípios de seu método as Classes Agrupadas ─ ambientes de trabalho (salas de aula) compartilhados por alunos com até três anos de diferença ─ sustentadas por objetivos claros e bem definidos, organizadas de forma que possam promover o desenvolvimento das estruturas sociocognitivas e o constante exercício da cidadania.
As Classes Montessorianas buscam responder às necessidades de desenvolvimento desiguais e/ou variados dos alunos ─ haja vista que cada um se desenvolve fisicamente, emocionalmente e cognitivamente em seu tempo ─ por meio de um ambiente cientificamente preparado para: o livre acesso aos materiais, exercício da liberdade, respeito ao tempo do outro, respeito a regras e limites impostos ao convívio de grupo, formação de subagrupamentos de acordo com os interesses, níveis de aprendizagem e maturidade, compartilhando os papéis de aprendente e ensinante.
Para Montessori é imprescindível: “Compor uma sala como uma sociedade, organizando o agrupamento de forma ‘vertical’, assegurando o fio da vida social. As nossas escolas demonstram que as crianças e jovens de idades diferentes ajudam uns aos outros; os menores veem o que fazem os maiores e pedem explicações, que estes dão voluntariamente. É um verdadeiro ensino; há entre ambos uma harmonia, uma comunicação, uma natural osmose mental.” Buscamos diariamente em uma escola montessoriana contrariar a lógica fabril. Ao invés de afastarmos crianças de faixa etária e níveis de conhecimentos diferentes, agrupamo-las conforme o plano de desenvolvimento em que se encontram, ampliando assim a possibilidade de troca de conhecimentos, experiências e vocabulário; ao invés de estimularmos a competição encorajamo-las à ajuda mútua e lhes ensinamos a cooperação, a valorização e respeito pelos diferentes saberes e habilidades. Por aqui os pares são vistos como importantes mecanismos de desenvolvimento.
O pesquisador Willard W. Hartup (1983) afirma que “as crianças se tornam cada vez mais interessadas na interação com pares à medida que ficam mais velhas.” A criança na primeira infância tem maior necessidade de trabalhar individualmente ─ pois nem sempre ela quer a companhia de um colega para ajudá-la na descoberta ou para dividir um material ─ geralmente aprende com o outro por meio da observação e imitação. Mas a partir dos seis anos elas sabem trabalhar melhor em grupo, até chegar na adolescência, ponto auge da necessidade de socialização, cujo trabalho em grupo torna-se imprescindível para uma aprendizagem mais produtiva e prazerosa por meio de exercícios de estruturação, reestruturação e acomodação de conceitos, valores e normas de convivência elaborados no coletivo.
Enquanto a educação convencional parece trabalhar na contramão dos períodos sensíveis, ao fazer as crianças interagir tanto no coletivo antes dos seis anos e depois fazê-las trabalhar como unidades autônomas concorrentes, justamente quando mais necessitam de interação; Montessori propõe uma educação centrada no desenvolvimento integral do aluno, propiciando assim um ambiente de transformação, um espaço de vida e cultura, que desenvolva a autonomia para conhecer, viver e relacionar-se.