Porque as crianças gostam de trabalhar
Você sabia que a criança aprende movimentando-se? A prática do exercício é fundamental para o seu desenvolvimento. A movimentação consiste num autêntico trabalho que surge como resultado do ambiente exterior – mesmo ambiente que o adulto utiliza e transforma.
Para desmistificar a ideia de que criança não pode fazer algumas tarefas sozinha, é preciso apropriar-se do conceito de que a maior motivação da criança pequena é a independência, pois ela se diverte ao praticar e descobrir muitas habilidades.Tudo isso parece complexo, mas não é! Com esta consciência adquirida e colocando “os óculos” da observação podemos enxergar quando a criança sinaliza que está pronta para fazer coisas simples. Como diz uma das frases mais conhecidas da mestra Maria Montessori, “Nunca ajude uma criança numa tarefa em que ela se sente capaz de fazer”. Nós adultos, precisamos saber identificar esses sinais e permitir que ela faça por si só. Uma dica: a euforia em fazer sozinha pode ser o momento certo em que a criança se encontra para começar a realizar atividades por conta própria, mas é necessário oferecer-lhe condições para praticar - ambiente e material, lembrando da importância do olhar do adulto nas questões dos cuidados e na finalização da atividade para que a criança participe da organização do espaço, mesmo que esta tarefa fique mais própria para o adulto.
Cabe aqui, refletir a dinâmica cotidiana do adulto que executa inúmeras funções, como trabalho remunerado, escola das crianças, organização da casa – alimentação, organização das roupas, higiene do ambiente, vida social, redes sociais, etc. O adulto consciente do seu papel de pai ou/e mãe deve incluir um “tempo específico dedicado para a sua criança”, pois nessa correria do dia a dia, o adulto, mais hábil, procura vesti-la e banhá-la, transportá-la no colo ou no carrinho, e na pressa para ordenar aquilo que a cerca, nem sempre permite que a própria criança participe de tais operações. Quando se concede à criança um pouco de liberdade “no mundo e no tempo”, a criança como primeira reação e defesa, exclama: “Eu quero fazer sozinha!”.
Aqui no Sigma, neste ambiente adequado às crianças, é frequente elas verbalizarem a seguinte frase, reveladora de uma necessidade interior: “Quero fazer sozinha”! A criança quer sentir-se parte do mundo dos adultos e para ela, desafiar-se trabalhando, é tão divertido quanto brincar. Se tiver a chance de fazer coisas simples que não lhe ofereça riscos, como lavar as mãos, dar banho no bebê (boneca), lavar vegetais/frutas, misturar alimentos frios, dispor a mesa, regar plantas,separar talheres, ... são muitas as atividades do cotidiano que ajudam no desenvolvimento da linguagem, novas habilidades, exercitando a autonomia e elevando sua auto-estima; para isso é preciso adequar ao tamanho dela, ferramentas e utensílios; deve-se pensar na idade da criança para favorecer o manuseio e melhor desempenho nas atividades. O adulto também precisa preparar-se oportunizando a liberdade para que a criança exercite a autonomia, em um ambiente organizado e que ofereça condições para assegurar seu desenvolvimento.
É trabalhando (desbravando uma atividade) que a criança aumenta sua energia - ela não se cansa e cresce através de suas descobertas. Segundo Maria Montessori, em seu livro O Segredo da Criança, “a experiência de fazer por si próprio não consiste apenas em brincar, é trabalho que as crianças devem realizar para crescer”.
Mais uma dica: ao dividir passo a passo tarefas que envolvem muitas habilidades, será necessário a ajuda para que a criança domine os níveis de dificuldade, um por vez.
Baixar-se até a altura da criança, explicar para ela em poucas palavras, chamar sua atenção para o que o adulto está fazendo e demonstrar de maneira sutil, utilizando movimentos leves e precisos, também faz parte do processo. Sabe-se o quanto é difícil manter-se consistente e permitir que a criança após dominar certas habilidades continue a fazer sozinha, mas é importante entender que a perfeição do “homem adulto”, depende da criança, porque o adulto pode aperfeiçoar o ambiente, mas a criança aperfeiçoa o ser - os seus esforços são semelhantes aos de quem caminha sempre, sem repouso, para alcançar sua meta.
REFERÊNCIAS
MONTESSORI, Maria. O segredo da Infância. Kirion, 2019.
SELDIN, Tim. Método Montessori na Educação dos Filhos. Manole Geral, 2018.